sexta-feira, 22 de julho de 2011

Os Pilares da Terra - Volume 2, de Ken Follett

Sinopse: Publicado pela primeira vez em 1989, Os Pilares da Terra surpreendeu o universo editorial ao tornar-se gradual mas inabalavelmente um clássico da ficção histórica, que continua a maravilhar leitores de todo o mundo e que a Presença lança agora em dois volumes. Na Inglaterra do século XII, com a guerra civil como pano de fundo, Tom, um humilde pedreiro e mestre-de-obras, tem um sonho majestoso - construir uma imponente catedral, dotada de uma beleza sublime, digna de tocar os céus. E é na persecução desse sonho que com ele e a sua família vamos encontrando um colorido mosaico de personagens que se cruzam ao longo de gerações e cujos destinos se entrelaçam de formas misteriosas e surpreendentes, capazes de alterar o curso da história - Ellen, uma mulher enigmática que vive à margem da sociedade e cujo passado esconde um segredo, Philip, prior da cidade de Kingsbridge, que vai supervisionar a construção da catedral, Aliena e Richard, ricos herdeiros destituídos das suas terras e títulos, William, o cavaleiro sem escrúpulos, e Waleran, o bispo disposto a tudo para obter o que pretende. À medida que assistimos à edificação de uma obra única envolvendo suspense, corrupção, ambição e romance, a atmosfera autêntica do quotidiano da Europa medieval em toda a sua grandeza absorve-nos irremediavelmente, ousando desafiar os limites da nossa imaginação. Recriação magistral de um tempo de conspirações, delicados equilíbrios de poder e violência, Os Pilares da Terra é decididamente a obra-prima de um autor que já vendeu 90 milhões de livros em todo o mundo.

A minha opinião: Assim que acabei de ler o volume 1, comecei logo a ler este, visto que estava já demasiado embalada na história para deixar o livro original a meio. Curiosamente, apesar de ter gostado bastante do primeiro volume, este prendeu-me ainda mais, tanto que dei por mim a ver os números das páginas a voar de tão embenhada que estava na história. Na verdade, apesar do livro ter, no total, mais de 1000 páginas, não me lembro de ter havido algum momento em que não tivesse vontade de continuar e descobrir o que me esperava na página seguinte, pois tem todos os ingredientes que cativam o leitor - bastante acção, algum romance, suspense e uma época histórica interessante - e cada acontecimento era descrito com a dose certa.

A minha expectativa em relação ao rumo das personagens foi plenamente correspondida e algo de que gostei muito ao longo deste volume foi ver um grande desenvolvimento das mesmas e constatar que Ken Follett criou personagens muito ricas e credíveis, que não se limitam a corresponder a um estereótipo de cruéis ou de boazinhas. Ao acompanharmos as personagens quase durante a sua vida inteira, podemos ver que as personagens mais boas também têm as suas imperfeições e que as mais cruéis, apesar de tudo, não são desprovidas de coração, pois em cada mini-capítulo, podiamos ver os acontecimentos do prisma de uma personagem, conhecendo os seus planos e pensamentos. Assim, não foram poucas as vezes em que me surpreendi com algumas delas.

Jack, por exemplo, foi uma das personagens que mais gostei e que me foi conquistando à medida que crescia. Se por um lado, enquanto jovem era um bocado estranho, enquanto adulto foi uma surpresa. A sua busca ousada e incansável pela verdade sobre o seu pai, a sua inteligência, determinação e criatividade que o permitiram contruir a catedral dos seus sonhos foram algo que admirei muito nesta personagem. Quando descobriu a solução para o problema das fendas causadas pelo vento mais forte nas partes mais elevadas da catedral, que nada mais eram que os arcobotantes, fiquei extremamente impressionada, pois estes eram utilizados antes, na arquitectura românica, mas não estavam à vista. Uma ideia tão inovadora só poderia vir de uma mente brilhante.

Aliena foi também uma personagem de que gostei bastante. Determinada e perspicaz, mostra-nos que apesar das dificuldades da vida, é possível resistir e ser bem sucedido.

Tom, o pedreiro foi uma das personagens por quem tive um carinho especial. Foi o seu sonho de constuir uma catedral que basicamente deu origem a esta história. Graças à sua paixão pela construção, passa também a mensagem de que a persecução dos nossos sonhos é algo essencial e talvez não tão irreal como os outros e nós podemos pensar.

Por fim, Philip. Uma personagem esplêndida. Perseverante é certamente a palavra que o descreve. Desde o início nos apercebemos de que não é um monge qualquer, é alguém capaz de fazer a diferença, devoto de verdade e que se preocupa muito com os meios para atingir os fins. O seu bom coração parece que não vale de muito, quando o seu esforço para recuperar Kingsbridge é continuamente ameaçado por algum plano de Waleran e William. Porém, Philip consegue sempre levantar-se do chão e ser até ajudado pelos seus inimigos. Uma personagem memorável. O mal triunfa sempre que os bons homens não fazem nada. Neste caso, Philip não deixa que isso aconteça.

Como a acção decorre num espaço temporal largo (cerca de 50 anos), não só podemos acompanhar uma grande parte da vida de todas as personagens, como também podemos vê-las em diferentes condições, quando estão no auge ou na miséria, quando têm tudo, e quando não têm nada. Porque se há algo que este livro tem de muito bom, é o facto de que retrata perfeitamente o instável contexto político e social da Idade Média e, portanto, as batalhas, as alianças, traições, violência, conspirações e a ambição desmedida de várias personagens que têm lugar na época medieval, e principalmente num tempo de guerra civil.

Como romance histórico, gostei bastante do facto de ser bastante detalhado na descrição da sociedade medieval, ao nível da sua organização, dos grupos sociais, das cidades, da política e da importância do Clero, que muitas vezes, não servia os interesses de Deus, mas os seus. Foi também muito interessante ver a importância que a existência de uma catedral tinha na vida dos habitantes da cidade.

Após ler Os Pilares da Terra, nunca mais poderei olhar as catedrais da mesma maneira. Neste livro, a paixão de Tom e Jack (e do autor, por detrás) que se vê nas descrições sobre o projecto e nas ideias que tinham, leva também o leitor a ver as catedrais não só como algo imponente, mas com um trabalho enorme ao nível de proporções, medidas, técnicas que está na base da sua construção. É muito curiosa também a passagem do estilo romântico de Tom para o gótico de Jack, a surpresa e admiração das pessoas ao ver a verticalidade e luminosidade das catedrais góticas que era algo completamente novo para elas. Nunca tinha realmente pensado nestas questões antes, mas este livro reavivou-me a admiração que tenho pela arte, tanto que enquanto o lia, ia sempre consultando um manual de história da arte e vendo as catedrais e técnicas que era faladas.

Após escrever tanto sobre este livro, é quase como se o final tivesse vindo cedo demais. Não me importaria de ler mais umas páginas deste magnífico livro, que contém mensagens belíssimas, personagens que dificilmente vou esquecer e uma história que não me decepcionou de qualquer forma.

Classificação: 9/10 (Excelente)

P.S - Um obrigada a uma pessoa muito simpática, que me emprestou o primeiro volume e deu o empurrão para que este livro passasse à frente dos outros da minha interminável lista :)

(A minha opinião sobe o volume 1)

domingo, 17 de julho de 2011

Os Pilares da Terra , de Ken Follett - Volume I

Sinopse: Na Inglaterra do século XII, Tom, um humilde pedreiro e mestre-de-obras, tem um sonho majestoso – construir uma imponente catedral, dotada de uma beleza sublime, digna de tocar os céus. E é na persecução desse sonho que com ele e a sua família vamos encontrando um colorido mosaico de personagens que se cruzam ao longo de gerações e cujos destinos se entrelaçam de formas misteriosas e surpreendentes, capazes de alterar o curso da história. Recheado de suspense, corrupção, ambição e romance, Os Pilares da Terra é decididamente a obra-prima de um autor que já vendeu 90 milhões de livros em todo o mundo.

A minha opinião: Visto que este livro é apenas metade do livro original, não me vou alongar muito na opinião, mas sim deixar algumas impressões.

É óbvio que já estava à espera de um grande livro, tendo em conta que apenas li críticas fantásticas sobre o mesmo. Porém não me lembrava já sobre o que se tratava e, portanto, foi uma grande surpresa começar a lê-lo e deparar-me com uma história completamente diferente de tudo o que li até à data.

A acção do livro decorre na época medieval, em Inglaterra. Apesar de não ser uma grande fã desta época, estou a gostar bastante desta história, em parte por causa das personagens. O contexto medieval encontra-se completamente representado por personagens credíveis e que ainda terão muito para dizer. Representando o clero, temos por um lado um bispo corrupto, Waleran, e por outro Philip, um monge com um bom coração e uma perseverança espantosa. A nobreza, também com dois lados, é representada por um por William, um homem sem escrúpulos, a meu ver repugnante, que apenas se interessa por terras e títulos e por outro por Aliena e Richard que são obrigados a lutar para recuperar o estatuto que perderam. Por fim, a família de Tom, o pedreiro que tem como sonho construir uma catedral, representa o povo, que humildemente luta pela sobrevivência.

No início, as histórias de cada personagem são apresentadas separadamente, porém rapidamente se interligam. Nada acontece por acaso e assim que nos damos conta, já todas as personagens se conhecem e contribuem para a criação de uma atmosfera tensa, onde as acções de uma personagem influenciam a vida das outras. Como pano de fundo ou elemento central - ainda não me decidi bem - está a construção da catedral de Kingsbridge. Caracterizo-a com uma certa ambiguidade, pois houve momentos em que era claramente uma protagonista, porque foi ela que serviu como elo de ligação entre as personagens todas. Porém, a partir de certa altura, esta parece deixar de ter tanta importância, ficando como algo que vai sendo construído lentamente. É quase como um elemento que se vai manifestando, nuns momentos mais, noutros menos.

Ainda está tudo muito em aberto, mas estou muito curiosa em relação à história de Ellen e ao rumo que este grande livro (penso que o posso dizer já) vai tomar.

(A minha opinião sobre o volume 2 d' Os Pilares da Terra, pode ser consultada aqui)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Perfume, de Patrick Süskind

Sinopse: Esta estranha história passa-se no século XVIII e é fruto de um extraordinário trabalho de reconstituição histórica que consegue captar plenamente os ambientes da época tal como as mentalidades. O protagonista é um artesão especializado no ofício de perfumista, e essa arte constitui para ele – nascido no meio dos nauseabundos odores de um mercado de rua – uma alquímica busca do Absoluto. O perfume supremo será para ele uma forma de alcançar o Belo e, nessa demanda nada o detém, nem mesmo os crimes mais hediondos, que fazem dele um ser monstruoso aos nossos olhos. Jean-Baptiste Grenouille possui no entanto uma incorrupta pureza que exerce um forte fascínio sobre o leitor. O Perfume, publicado em 1985, de um autor então quase desconhecido, foi considerado um dos mais importantes romances da década e nunca mais deixou de ser reeditado desde então, totalizando os 4 milhões de exemplares vendidos, só na Alemanha, e 15 milhões em países estrangeiros. Foi traduzido em 42 línguas. Este fenómeno transformou-o num dos mais importantes livros de culto de sempre. Em 2006, O Perfume passa a ser uma longa-metragem inspirada no romance de Patrick Süskind.

A minha opinião: Sublime. O Perfume é um livro fascinante e aterrador, com o poder de atrair ao mesmo tempo que repela. Esta capacidade é conseguida por inúmeros aspectos que fazem com que este livro sobressaia imediatamente. Apesar de ter lido outro livro do autor -O Contrabaixo- e ter gostado, este tem algo muito especial, pelo que não é por acaso que é considerado a obra-prima de Patrick Süskind.

Algo que logo se destacou foi a personagem central deste livro. Grenouille não pode ser considerado um ser humano. É o mal personficado num ser abominável, com uma inexplicável sensibilidade olfativa, mas que não possui odor próprio. Esta falta de odor é como se fosse uma falta de identidade. Grenouille não sente, como os seres humanos, uma necessidade de sociabilizar e é capaz de persistir em situações que seres humanos normais não sobreviveriam. Aos seus olhos, é como se fosse um deus, no entanto, é visto como um ser inofensivo e até desprezível pelo resto das pessoas. Por algumas destas características e por outras, é frequentemente comparado com uma carraça. Não posso dizer que me identifiquei com a personagem como é costume, mas ela manteve-me intrigada e, misteriosamente, houve alturas em que não o conseguia ver como um assassino.

Esta estranha personagem, usando o seu dom olfativo que o permite reconhcer os objectos pelo odor vai interioizando as técnicas do fabrico de perfumes e da extracção de essências de flores. A aprendizagem destas técnicas tem como objectivo final o fabrico dum perfume que contivesse uma essência única, a essência de belas jovens virgens, como que o auge da beleza olfativa. É na procura desta última essência que Grenouille assassina várias jovens, retendo no entanto, o que para ele era significativo - o seu odor.

Esta obcessão ao longo do livro gerada em torno dos odores é algo único. Atrevo-me a dizer que a minha percepção olfativa parece já não ser a mesma, principalmente depois deste parágrafo:

"De facto, os homens podiam fechar os olhos ante a grandiosidade, ante o louvor, ante a beleza e fechar os ouvidos a melodias ou palavras lisonjeiras. Não podiam, no entanto, furtar-se ao odor, dado que o odor era irmão da respiração. Penetrava nos homens em simultâneo com ela; não podiam erguer-lhe obstáculos, caso lhes interessasse viver. E o odor penetrava directamente neles até ao coração e ali tomava decisões sobre a simpatia e o desprezo, a repugnância e o desejo, o amor e o ódio. Quem controlava os odores, controlava o coração dos homens."

Esta visão é perturbadora. Ao longo do livro, apercebemos nos em várias situações da importância de um sentido subestimado - o olfacto. É precisamente a ausência de odor que faz com que os seres humanos não se apercebam do perigo que é Grenouille ou que o amem quando ele está "disfarçado" com um perfume. Estas mudanças de comportamento em relação a Grenouille são originadas pelo odor, mas os seres humanos nunca detectaram razão das mesmas, porque respirar é algo inato.

O final do livro foi para mim tão imprevisível que tive de parar uns momentos para absorver o que tinha acabado acontecer. Numa palavra, genial. (spoiler a seguir, passar o cursor) O leitor não fica com a sensação de que houve um prevalecimento do bem porque já não resta nada de Grenouille na Terra. Para mim, ele conseguiu o que queria, foi absorvido pelos seres humanos que o comeram e incorporado por estes, possuindo, finalmente um odor.

Compreendo agora a razão do seu sucesso. O Perfume é um livro único, difícil de pousar e com uma história dificil de esquecer. Ao acabá-lo, percebo que a sua verdadeira riqueza está nas entrelinhas, ainda que eu, muito provavelmente, não a tenha captado totalmente. Por isso mesmo sei que o irei reler dentro de cinco, seis ou sete anos. Captar a verdadeira essência deste livro poderá ser difícil, mas será certamente recompensador. Recomendo.

Classificação : 10/10

Nota: Após escrever esta opinião, aventurei-me pela internet e descobri pontos de vista muito interessantes sobre a história relatada que vos aconselho a ler:
- Opinião no blog nlivros
- Opinião no blog Há sempre um livro à nossa espera
- O ensaio de Sun-chieg Liang sobre a natureza de Grenouille e a ideia de Eu cheiro, logo existo.