terça-feira, 8 de julho de 2014

A Laranja Mecânica, de Anthony Burgess

Sinopse (contracapa): Edição comemorativa 50º aniversário da primeira edição de um dos grandes clássicos literários sobre futurologia do Século XX, comparável a obras com 1984 ou o "Admirável Mundo Novo". Imortalizado também no cinema pela mítica adaptação de Stanley Kubrick, é uma obra ímpar e de indispensável leitura, já que nem sempre a versão cinematográfica coincide com o texto do romance. Além disso esta edição Inclui material inédito: textos e ilustrações do autor, assim como ensaios sobre a obra e a sua polémica Narrada pelo protagonista, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário que então domina a sociedade. Os processos utilizados e as fantásticas e inesperadas conclusões ainda hoje são tão polémicas como actuais.


A minha opinião: A Laranja mecânica é uma referência nas distopias, colocada injustamente ao lado de 1984 ou Admirável Mundo Novo. A meu ver, esta comparação é tão adequada como colocar o Drácula ao mesmo nível que o Crepúsculo.

Passo a explicar. Numa primeira parte, A Laranja Mecânica apresenta uma sociedade futurista promissora do ponto de vista distópico. Desde o início se cria uma repulsa pela violência despropositada que Alex e os seus "drucos" - amigos- praticam como forma de entretenimento nas suas saídas nocturnas. Esta repulsa provém não só dos próprios atos descritos, mas também do bom trabalho ao nível da narração que transmite a ideia da violência como algo não só natural para estes adolescentes, mas principalmente como algo justificável e sublime. Certamente, haveria muito por explorar, principalmente quando Alex - o narrador - é preso e, como forma de o correção, através de tratamentos de choque, criam nele uma repulsa física completa pela violência, de modo a que ele já não possa escolher o bem, mas sim seja obrigado a não escolher o mal, por todo o constragimento físico que o simples pensar na violência lhe provoca.

Sem dúvida somos levados a pensar, numa primeira análise, se é de algum modo justificável retirar o livre-arbítrio de uma pessoa, para a impedir de praticar o mal. Porém podemos, numa segunda análise mais introspetiva, tentar perceber até que ponto é assim tão diferente escolhermos o "bem" não porque seja essa a nossa verdadeira opção, mas sim porque, por alguma razão, impigida social ou legalmente, nos impele a não escolher o mal.

No entanto, ainda que com o argumento promissor, a leitura ficou muito aquém.  A utilização do "nadescente"  - calão dos adolescentes - ao longo da narrativa foi, para mim, excessiva e desinteressante. Ao longo do livro o leitor habitua-se, mas confesso que, para mim, não acrescentou rigorosamente nada ao livro, antes pelo contrário. Aliás, não fosse o livro tão famoso e tê-lo-ia largado nas primeiras páginas quando percebi o uso que o nadescente iria ter.

Mas o pior foi a própria condução da narrativa. Todo o livro parece querer que o leitor repudie a violência de uma forma tão óbvia, o que se torna completamente desinteressante. Não há assim espaço para uma verdadeira construção da personagem do narrador, ou visão ligeiramente mais geral da sociedade em questão. Parece assim que o livro tem apenas o propósito de criar uma reação imediata no leitor, demasiado primitiva na minha opinião.

Este livro foi um pesadelo para acabar. Mas acima de tudo uma grande desilusão.

Classificação: 5/10 - Razoável

Sinto me na obrigação de fazer a ressalva que apenas o potencial (não desenvolvido) é a razão pela qual classifico quantitivalmente com esta pontuação.

Sem comentários: