Sinopse: Este livro elege como cenário a extraordinária saga da emigração portuguesa para França, contada através de uma galeria de personagens inesquecíveis e da escrita luminosa de José Luís Peixoto. Entre uma vila do interior de Portugal e Paris, entre a cultura popular e as mais altas referências da literatura universal, revelam-se os sinais de um passado que levou milhares de portugueses à procura de melhores condições e de um futuro com dupla nacionalidade. Avassalador e marcante, Livro expõe a poderosa magnitude do sonho e a crueza, irónica, terna ou grotesca, da realidade. Através de histórias de vida, encontros e despedidas, os leitores de Livro são conduzidos a um final desconcertante onde se ultrapassam fronteiras da literatura. Livro confirma José Luís Peixoto como um dos principais romancistas portugueses contemporâneos e, também, como um autor de crescente importância no panorama literário internacional.
A minha opinião: Conhecia pouco de José Luís Peixoto. Umas crónicas na Visão, uns textos soltos nas aulas de português, uma notícia ou outra no jornal ou na televisão, uma frase na Bertrand do Colombo. Parti assim para Livro sem saber muito bem o que esperar. A verdade é que isso foi perfeito. Desde a primeira página fiquei hipnotizada pela sua escrita, tanto coloquial e familiar, como erudita e poética, servindo da melhor forma a ocasião. Raras são as vezes em que, desde o início de um livro, encontro trechos que me apetece reler vezes sem conta, em que o verdadeiro prazer da leitura se encontra em saborear cada palavra lida. Mas esse foi o caso de Livro.
Aliado à escrita sublime, têm-se personagens fascinantes pela sua credibilidade. São os emigrantes portugueses que vêem na França um mundo de possibilidades, onde poderão arranjar emprego, qualidade de vida, felicidade, sendo para isso necessário abandonar o acarinhado Portugal. São os familiares que anseiam por notícias. São os habitantes da vila que se maravilham com os portugueses que retornam nas "vacanças" e trazem notas de mil escudos. Mas, ao mesmo tempo, são também Adelaide, Ilídio, Cosme, Josué, a velha Lubélia. Primeiro, as suas expectativas e resistência contra as adversidades, depois a desilusão e o cansaço até que uma carta, um olhar, um acontecimento, um regresso renovem a sua vontade de persistir.
[a parte sublinhada deve ser lida apenas se já leu o livro] Claramente dividido em duas partes, na primeira tem-se o contacto com as personagens da vila, o abandono de Ilídio pela mãe, o despertar do amor entre Adelaide e Ilídio, as suas idas para França, separados. Um retrato de uma vila portuguesa, com as suas pessoas generosas e mesquinhas, com traços humanos intemporais. Aqui, tem-se uma narrativa romanceada, mas realista. Na segunda parte, tem-se uma descoberta que pode mudar por completo o significado de Livro. Na minha qualidade de leitora sem grandes conhecimentos de correntes literárias, foi a princípio estranha a mudança para um narrador que interpela o leitor, se auto-critica, auto interrompe e reflecte. Porém, a obra adquiriu um novo significado. Ao saber que o livro que lemos é o livro que a mãe deu a Ilídio, Livro torna-se mais que um mero romance, mostra que um livro é mais que palavras escritas, são lembranças, são significados que lhe conferimos ou um meio de comunicação. De referir que, durante todo o livro, vão aparecendo aqui e ali umas pontas soltas e poucos são os acontecimentos escarrapachados no papel. Mas assim é a vida, muitas explicações aparecem depois dos acontecimentos terem lugar, outros ficarão para sempre por explicar.
Não vivi em primeira pessoa o tema relatado. Porém, em Agosto, a minha aldeia está repleta de emigrantes franceses, alguns da minha família. Cresci a ouvir falar bastante da emigração, do bom, do mau. Livro trouxe de volta essas lembranças, deu vida novamente aos portugueses cuja descendência se sente agora francesa ou mesmo àqueles que não singraram. Após ler a última página, penso que essa era mesmo a intenção do narrador, porque enquanto as palavras são lidas pelo leitor, a realidade a que remetem existe.
Classificação: 9/10 - Excelente
Aliado à escrita sublime, têm-se personagens fascinantes pela sua credibilidade. São os emigrantes portugueses que vêem na França um mundo de possibilidades, onde poderão arranjar emprego, qualidade de vida, felicidade, sendo para isso necessário abandonar o acarinhado Portugal. São os familiares que anseiam por notícias. São os habitantes da vila que se maravilham com os portugueses que retornam nas "vacanças" e trazem notas de mil escudos. Mas, ao mesmo tempo, são também Adelaide, Ilídio, Cosme, Josué, a velha Lubélia. Primeiro, as suas expectativas e resistência contra as adversidades, depois a desilusão e o cansaço até que uma carta, um olhar, um acontecimento, um regresso renovem a sua vontade de persistir.
[a parte sublinhada deve ser lida apenas se já leu o livro] Claramente dividido em duas partes, na primeira tem-se o contacto com as personagens da vila, o abandono de Ilídio pela mãe, o despertar do amor entre Adelaide e Ilídio, as suas idas para França, separados. Um retrato de uma vila portuguesa, com as suas pessoas generosas e mesquinhas, com traços humanos intemporais. Aqui, tem-se uma narrativa romanceada, mas realista. Na segunda parte, tem-se uma descoberta que pode mudar por completo o significado de Livro. Na minha qualidade de leitora sem grandes conhecimentos de correntes literárias, foi a princípio estranha a mudança para um narrador que interpela o leitor, se auto-critica, auto interrompe e reflecte. Porém, a obra adquiriu um novo significado. Ao saber que o livro que lemos é o livro que a mãe deu a Ilídio, Livro torna-se mais que um mero romance, mostra que um livro é mais que palavras escritas, são lembranças, são significados que lhe conferimos ou um meio de comunicação. De referir que, durante todo o livro, vão aparecendo aqui e ali umas pontas soltas e poucos são os acontecimentos escarrapachados no papel. Mas assim é a vida, muitas explicações aparecem depois dos acontecimentos terem lugar, outros ficarão para sempre por explicar.
Não vivi em primeira pessoa o tema relatado. Porém, em Agosto, a minha aldeia está repleta de emigrantes franceses, alguns da minha família. Cresci a ouvir falar bastante da emigração, do bom, do mau. Livro trouxe de volta essas lembranças, deu vida novamente aos portugueses cuja descendência se sente agora francesa ou mesmo àqueles que não singraram. Após ler a última página, penso que essa era mesmo a intenção do narrador, porque enquanto as palavras são lidas pelo leitor, a realidade a que remetem existe.
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