sábado, 6 de novembro de 2010

Colecção Filosofia aberta

Caros leitores,

Iniciei em Setembro a minha aventura pelo mundo da filosofia. Logo na primeira aula, a professora recomendou à turma dois livros da colecção Filosofia Aberta - Que quer dizer tudo isto? - Uma iniciação à filosofia, de Thomas Nagel e Elementos básicos da filosofia, de Nigel Warburton. A princípio, não tencionava lê-los, pois temia que fossem aborrecidos e demasiado filosóficos. Aí, caros leitores, encontrava-se um preconceito que se revelaria totalmente falso, como poderão ver na opinião que se segue.


Li primeiro Que quer dizer tudo isto? , porque era bem pequeno (tem cerca de 100 páginas). Desta forma, se não gostasse, não seria um martírio acabá-lo. Ao contrário do que estava à espera, gostei muito da leitura. Apesar de não ter qualquer referência - afinal de contas foi o primeiro livro de filosofia que li e não tenho quase conhecimentos sobre a área - achei que o livro estava muito acessível para quem está a começar a estudar filosofia e clarifica o leitor em vários aspectos relacionados com algumas questões filosóficas. Não consigo avaliar se a linguagem foi a mais correcta a nível filosófico, mas foi uma leitura que me ajudou bastante a perceber o que era a filosofia e a descobrir o que é pensar filosoficamente, o que claro, facilitou depois a compreensão dos conteúdos para o teste. Aconselho, por isso, a todos os que iniciam o estudo da filosofia. Troquei-o inclusivamente com algumas pessoas na mesma fase e elas acharam o mesmo - "É pequeno, lê-se bem e clarifica alguns conceitos. Resumidamente, é interessante." O objectivo não é que o leitor fique a saber tudo sobre o que diziam Sócrates e Platão, mas que simplesmente se questione e mude um pouco a sua maneira de pensar. Excelente para uma primeira abordagem à filosofia.


Em relação ao segundo, este é maior - tem aproximadamente 270 páginas - pelo que é mais detalhado, abordando mais temas do que o anterior, como a arte, a política e a ciência, o que resulta numa leitura introdutória um pouco mais densa. Aconselho este aos iniciantes que realmente estão interessados em saber mais sobre a filosofia, mas não como primeira abordagem. Não sei se isto é comum em livros de filosofia, mas gostei bastante da estrutura do livro : apresentação do tema, posições defendidas por diversas entidades e seus argumentos, contra-argumentos, teoria mais aceite, breve conclusão e leituras complementares. À semelhança do anterior, a linguagem é muito clara e acessível e deixa o leitor elucidado em relação aos temas de que trata - os elementos básicos da filosofia.


Aqui ficam as sinopses dos dois livros:

O que quer dizer tudo isto? , de Thomas Nagel


Sinopse: Qual o sentido da vida? E a natureza da morte? Quais os fundamentos da ética? Existe mundo exterior? Seremos realmente livres? "Escreve-se acerca destes problemas há milhares de anos, mas a matéria-prima filosófica vem directamente do mundo e da nossa relação com ele, e não de escritos do passado" , afirma o autor na introdução.


Fiel à melhor tradição filosófica, Thomas Nagel oferece-nos agora uma esplêndida introdução aos principais problemas, teses e argumentos da filosofia, colocando a ênfase na capacidade de levantar questões, traçar distinções e formular hipóteses, exercendo assim a faculdade crítica da razão, que é, afinal, a própria função da filosofia.


Elementos básicos da filosofia, de Nigel Warburton

Sinopse (do site da Gradiva): Essencial para o secundário e o superior. A filosofia da religião, a Ética, a filosofia política, epistemologia e metafísica, filosofia da ciência, filosofia da mente, filosofia da arte. Mais uma obra para que professores e estudantes possam enfrentar e mudar a deplorável situação do ensino da filosofia no nosso país. E para o público em geral que queira pensar criticamente sobre os grandes temas que interessam a todos, como a eutanásia ou a democracia.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O contrabaixo, de Patrick Süskind

Sinopse: Imagine que se encontra numa sala à prova de som, o seu quarto por exemplo. E aí, rodeado de tudo o que lhe pertence, objectos com os quais se habituou a conviver e que ajudam a delimitar o campo da sua individualidade se lembra de um dia contar aos outros como é vivida a sua solidão… É mais ou menos num cenário como este que um contrabaixista de uma orquestra nacional alemã, tendo como interlocutor o público teatral, confidencia em livre associação de ideias, sarcástico e pleno de uma ironia amargurada, o seu amor não revelado por Sara, uma cantora de ópera. Só que esta relação platónica dificilmente se poderá tornar realidade. E isto por causa do contrabaixo, o instrumento musical que uma orquestra que se preze não pode dispensar. Além disso, o instrumento mais arcaico ainda existente, aquele que melhor se ouve quanto mais afastados estivermos dele e quanto ao aspecto externo, um instrumento de natureza hermafrodita. Parecendo-se com uma gigantesca rabeca na parte inferior, enquanto na parte superior se aproxima de uma não menor viola de gamba. Desajeitado e incómodo o instrumento é para este contrabaixista o maior empecilho a um grande e profundo amor. Exemplificado assim o isolamento em que vive esta personagem curiosa, é pela sua boca ainda que penetramos na história da música e dos músicos, para nos confrontarmos com uma brilhante crítica à sociedade contemporânea.

A Minha opinião: [Antes de se questionarem, não, não li O Perfume, pelo que não poderei de todo comparar este pequeno livro com a obra mais conhecida do escritor.]

O Contrabaixo foi um daqueles livros de que nunca teria tomado conhecimento se não fossem os blogs de leitura que habitualmente visito. Após duas críticas que me deixaram bastante curiosa, decidi lê-lo ainda antes d' O Perfume. O resultado: muito positivo.

Dada a extensão do livro não esperava uma grande obra-prima, no entanto, fiquei muito surpreendida. Os ingredientes do livro eram perfeitos para uma apaixonada pela música (e sua história) que por acaso até tocou violoncelo. De certa forma, já estava à espera de gostar, de uma maneira ou outra teria de identificar o contrabaixista com algumas almas de músicos que tenho encontrado pelo caminho. No entanto, isso não foi o único de que gostei. A escrita era muito boa e apesar da personagem ir deambulando por vários temas, tudo parecia natural, real. Além disso, todo o cenário estava muito interessante. O monólogo do contrabaixista e os seus devaneios juntamente com os trechos musicais que ele e eu iamos ouvindo resultaram num cenário muito realista, em que o leitor como que está ali a ouvir os seus pensamentos, identificando-se com alguns, querendo refutar outros, mas sem poder fazer nada a não ser ouvir o pobre homem.

Apesar de ter lido o livro de uma perspectiva um pouco musical, uma pessoa menos ligada à música poderá disfrutar deste livro, a julgar pelas opiniões que li (esta e esta) e também porque não é necessário ter conhecimento musical para perceber as metáforas que vão aparecendo ao longo do monólogo do contrabaixista. Afinal de contas, como ele próprio diz, a orquestra nada mais é do que uma imagem da sociedade humana.

Uma pequena leitura que se lê de um fôlego, mas não por isso menos interessante.

Classificação: 7/10 - Bom