Sinopse: Esta estranha história passa-se no século XVIII e é fruto de um extraordinário trabalho de reconstituição histórica que consegue captar plenamente os ambientes da época tal como as mentalidades. O protagonista é um artesão especializado no ofício de perfumista, e essa arte constitui para ele – nascido no meio dos nauseabundos odores de um mercado de rua – uma alquímica busca do Absoluto. O perfume supremo será para ele uma forma de alcançar o Belo e, nessa demanda nada o detém, nem mesmo os crimes mais hediondos, que fazem dele um ser monstruoso aos nossos olhos. Jean-Baptiste Grenouille possui no entanto uma incorrupta pureza que exerce um forte fascínio sobre o leitor. O Perfume, publicado em 1985, de um autor então quase desconhecido, foi considerado um dos mais importantes romances da década e nunca mais deixou de ser reeditado desde então, totalizando os 4 milhões de exemplares vendidos, só na Alemanha, e 15 milhões em países estrangeiros. Foi traduzido em 42 línguas. Este fenómeno transformou-o num dos mais importantes livros de culto de sempre. Em 2006, O Perfume passa a ser uma longa-metragem inspirada no romance de Patrick Süskind.
A minha opinião: Sublime. O Perfume é um livro fascinante e aterrador, com o poder de atrair ao mesmo tempo que repela. Esta capacidade é conseguida por inúmeros aspectos que fazem com que este livro sobressaia imediatamente. Apesar de ter lido outro livro do autor -O Contrabaixo- e ter gostado, este tem algo muito especial, pelo que não é por acaso que é considerado a obra-prima de Patrick Süskind.
Algo que logo se destacou foi a personagem central deste livro. Grenouille não pode ser considerado um ser humano. É o mal personficado num ser abominável, com uma inexplicável sensibilidade olfativa, mas que não possui odor próprio. Esta falta de odor é como se fosse uma falta de identidade. Grenouille não sente, como os seres humanos, uma necessidade de sociabilizar e é capaz de persistir em situações que seres humanos normais não sobreviveriam. Aos seus olhos, é como se fosse um deus, no entanto, é visto como um ser inofensivo e até desprezível pelo resto das pessoas. Por algumas destas características e por outras, é frequentemente comparado com uma carraça. Não posso dizer que me identifiquei com a personagem como é costume, mas ela manteve-me intrigada e, misteriosamente, houve alturas em que não o conseguia ver como um assassino.
Esta estranha personagem, usando o seu dom olfativo que o permite reconhcer os objectos pelo odor vai interioizando as técnicas do fabrico de perfumes e da extracção de essências de flores. A aprendizagem destas técnicas tem como objectivo final o fabrico dum perfume que contivesse uma essência única, a essência de belas jovens virgens, como que o auge da beleza olfativa. É na procura desta última essência que Grenouille assassina várias jovens, retendo no entanto, o que para ele era significativo - o seu odor.
Esta obcessão ao longo do livro gerada em torno dos odores é algo único. Atrevo-me a dizer que a minha percepção olfativa parece já não ser a mesma, principalmente depois deste parágrafo:
"De facto, os homens podiam fechar os olhos ante a grandiosidade, ante o louvor, ante a beleza e fechar os ouvidos a melodias ou palavras lisonjeiras. Não podiam, no entanto, furtar-se ao odor, dado que o odor era irmão da respiração. Penetrava nos homens em simultâneo com ela; não podiam erguer-lhe obstáculos, caso lhes interessasse viver. E o odor penetrava directamente neles até ao coração e ali tomava decisões sobre a simpatia e o desprezo, a repugnância e o desejo, o amor e o ódio. Quem controlava os odores, controlava o coração dos homens."
Esta visão é perturbadora. Ao longo do livro, apercebemos nos em várias situações da importância de um sentido subestimado - o olfacto. É precisamente a ausência de odor que faz com que os seres humanos não se apercebam do perigo que é Grenouille ou que o amem quando ele está "disfarçado" com um perfume. Estas mudanças de comportamento em relação a Grenouille são originadas pelo odor, mas os seres humanos nunca detectaram razão das mesmas, porque respirar é algo inato.
O final do livro foi para mim tão imprevisível que tive de parar uns momentos para absorver o que tinha acabado acontecer. Numa palavra, genial. (spoiler a seguir, passar o cursor) O leitor não fica com a sensação de que houve um prevalecimento do bem porque já não resta nada de Grenouille na Terra. Para mim, ele conseguiu o que queria, foi absorvido pelos seres humanos que o comeram e incorporado por estes, possuindo, finalmente um odor.
Compreendo agora a razão do seu sucesso. O Perfume é um livro único, difícil de pousar e com uma história dificil de esquecer. Ao acabá-lo, percebo que a sua verdadeira riqueza está nas entrelinhas, ainda que eu, muito provavelmente, não a tenha captado totalmente. Por isso mesmo sei que o irei reler dentro de cinco, seis ou sete anos. Captar a verdadeira essência deste livro poderá ser difícil, mas será certamente recompensador. Recomendo.
Classificação : 10/10
Nota: Após escrever esta opinião, aventurei-me pela internet e descobri pontos de vista muito interessantes sobre a história relatada que vos aconselho a ler:
- Opinião no blog nlivros
- Opinião no blog Há sempre um livro à nossa espera
- O ensaio de Sun-chieg Liang sobre a natureza de Grenouille e a ideia de Eu cheiro, logo existo.
9 comentários:
Eu não sei porquê, mas este livro nunca me chamou a atenção. Aliás, sempre fugi um pouco dele. Mas ultimamente tenho lido por aí críticas tão favoráveis... e, embora a minha (não) vontade de o ler se mantenha praticamente inalterável, fico com uma sensação estranha de curiosidade, para saber o que leva as pessoas a adorar esta leitura. Um dia não vou conseguir escapar a este perfume.
(Peço desculpa pelo duplo comentário, mas só agora vi: próxima leitura, Os Pilares da Terra? Muito, muito bom! Li os dois volumes de seguida em 2008, e mantém-se até hoje como uma leitura memorável. Por curiosidade, actualmente também me encontro a ler um livro do autor - aliás, desde Os PIlares da Terra que não lia nenhum - trata-se do recente A Queda dos Gigantes. E estou a gostar!)
Viva!
O perfume é um romance único, excepcional, genial.
Eu também demorei a captar a essência do livro e, curioso, fico sempre algo incomodado quando leio uma opinião muito superficial que denota não ter "apanhado" a mensagem do autor.
A tua está excelente!
Parabéns!
Miguel
NLivros
Já ando a rondar esse livro há imenso tempo, agora fiquei com a certeza que tenho de o ler!! :)
Tiago, tenho a certeza que, um dia, essa (não) vontade vai acabar :)
Quanto aos Pilares da Terra, estou a gostar bastante! Vou na página 250 e até agora a leitura tem sido muito interessante. Se não fossem as (excelentes) opiniões que tenho lido sobre este livro, nunca teria qualquer interesse em lê-lo. Estou surpreendida por estar a gostar tanto :)
Iceman, obrigada! No entanto, devo dizer que a tua opinião me parece mil vezes melhor do que a minha e fez me ver o livro duma maneira completamente diferente.
Diana, sim, tens de o ler! O Perfume estava na minha lista de livros para ler há imenso tempo e agora que o li, estou felicíssima por não o ter deixado escapar! Garanto-te que o seu sucesso é bem merecido.
É um livro maravihoso mesmo! Mas o filme.. nem consegui assistir até o final. Meia hora só de falação em off, e aquela cor sépia-esverdeada.. mas o livro, já li duas vezes e certamente vou reler algum dia.
Olá Jacqueline. Li a tua opinião e gostei bastante, temos realmente a mesma perspectiva do livro. É realmente um dos que mais gostei.
Vou continuar atento ao teu blog e deixo-te aqui o meu para que o possas visitar mais vezes: http://lerycriticar.blogspot.com/
Fico à espera das tuas visitas. continuação de boas leituras!
Angela, quase toda a gente que conheço adorou o filme! Eu ainda não o vi, mas quando o vir hei-de colocar aqui a minha opinião.
Luis, sou já seguidora :)
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