A Minha opinião: Antes de mais, quero referir que este livro foi lido no âmbito do contrato de leitura da disciplina de português. Ainda que eu tenha tido a oportunidade de o escolher numa lista de 20 livros de autores portugueses, interiormente, a etiqueta de "obrigatório" ao princípio não me deixou desfrutar do livro como o teria feito se fosse uma leitura normal. Para minha surpresa, após o arranque inicial dos primeiros 3 capítulos, já o via como um livro que lia por prazer e não por obrigação.
A história desenrola-se em Tarcisis, um município situado na Lusitânia, na altura em que Marco Aurélio era imperador. No primeiro capítulo, o protagonista, Lúcio Valério encontra-se exilado na sua villa, fora de Tarcisis, após ter exercido o cargo de dúunviro (governador máximo) no município. De seguida Lúcio inicia a analepse, propondo-se a escrever sobre os acontecimentos que levaram ao seu exílio, aquando a sua governação, de modo a apaziguar o seu espírito.
Enquanto dúunviro, Lúcio vai deparar-se com três grandes problemas: o avanço dos mouros que poderão vir a atingir Tarcisis, a seita dos cristãos que ele tenta, de certa forma, proteger do ódio da população e todo o contexto político e o descontentamento social que, a certa altura, Lúcio vai deixar de conseguir controlar tal a forma como os outros dois problemas ocupam as suas mãos. Isto sem esquecer a terrível atracção que sente por Iúnia Cantaber, a cristã mais devota e fanática de Tarcisis.
Gostei bastante do livro. Apesar de não ser um livro viciante, de leitura rápida, prende o leitor e obriga-o a reflectir sobre aquilo que está a ler. De facto, este livro não tem como propósito relatar acontecimentos verídicos, porém, por aquilo que acontece é inevitável não pensar que, em moldes ligeiramente distintos, dilemas e situações nas quais Lúcio se encontra poderiam não só ter ocorrido na sociedade romana como também numa actual. Isto porque as pessoas mudam o mundo, mas o mundo não muda as pessoas. Os problemas que Lúcio enfrenta não seriam iguais nos dias de hoje, mas a forma como ele actua sobre eles e como ele é visto pelo resto da população por causa dessas acções seriam, sem dúvida, parecidas.
Lúcio é um homem íntegro, fiel aos seus princípios e preocupado em fazer justiça. É um bom romano e acredita no sistema romano, ainda que não se identifique com alguns hábitos da sua cultura, entre os quais os divertimentos. Enquanto governante, claro está, estas características não serviam para ser considerado um bom líder, porque das duas, uma, ou ele fazia o que era justo, ou não agradava o seu povo. E o que acontece na maioria das sociedades se um líder não faz o que o povo quer? O que acontece se um grande governante, justo e com bons ideais, não faz o que o povo e o que os outros políticos querem? Simplesmente não sobrevive, e é afastado.
Não conhecia o autor, mas fiquei muito bem impressionada com este livro. A história é muitíssimo interessante e o enredo é sem dúvida cativante. Porém, aquilo que esconde por detrás é ainda mais rico, porque lida com mais do que a própria história. Não é uma simples historieta. É um livro que obriga o leitor a reconhecer que é curioso como duas sociedades tão distintas, separadas por tantos séculos, possam ter tanto em comum, simplesmente porque as atitudes das pessoas permanecem as mesmas.
Recomendo vivamente àqueles, que, como eu querem ser arrebatados por um excelente livro de um autor português.
Classificação: 8/10 - Muito Bom
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