domingo, 21 de julho de 2013

Flatland, de Edwin A. Abbott



Sinopse: Flatland é um romance revolucionário onde grande parte da acção se passa num universo a duas dimensões, habitado por toda a espécie de figuras geométricas. O narrador do livro, ele próprio um quadrado residente neste imenso território bidimensional, leva-nos a percorrer com notável rigor matemático outros mundos com apenas uma dimensão, ou com três, e entreabre o caminho para discutir outras dimensões. Se cientificamente Flatland é sem dúvida um livro excepcional, antecedendo em vários anos conceitos discutidos pela física moderna — como a relação espaço-tempo —, literária e teologicamente é também um testemunho notável. E se, a certo ponto, pode ser chocante a aparente misoginia do autor, cedo se torna evidente que estamos perante uma das mais mordazes sátiras sociais aos hábitos vigentes durante a época vitoriana. 


A minha opinião: Flatland é um daqueles livros que, apesar de ter uma pequena dimensão, encerra em si conceitos capazes de mudar a visão do leitor. 
Edwin Abott apresenta, assim, a sociedade que habita Flatland, um mundo a duas dimensões, constituída por retas, triângulos, quadrados, pentágonos etc. 
São vários os aspetos desta sociedade a duas dimensões que nos deixam a pensar. Isto, porque, no fundo, estamos a observar a nossa mentalidade aplicada a um mundo com menos 2 dimensões: este apresenta também uma sociedade estratificada, com mecanismos de ascensão social, a diferença entre homem e mulher está também visivelmente representada, a resistência a mudar um preconceito/ capacidade de conseguir ver o mundo sem nos prendermos pelo conhecimento que julgamos possuir é algo quase que inevitável tanto para os habitantes de Flatland como também para nós, seres humanos. Deste modo, à medida que avançamos no livro, apercebemo-nos que o mundo representado, tão diferente e , de certa forma, difícil de imaginar na nossa mente, vai começando a assemelhar-se aos contornos do nosso mundo, tornando-se impossível não questionar se também nós seremos obtusos em relação à existência de realidades com mais dimensões. 
Porém, o questionamento continua. Quando o quadrado, personagem que acompanhamos na nossa descoberta de Flatland, visita a Lineland ou contacta com a Spaceland, tendo uma visão mais alargada na primeira, e mais limitada na segunda, são várias as perguntas que assaltam o leitor: até que ponto estamos limitados na nossa visão sobre a realidade? Serão as nossas leis da física e matemática universais ou só se aplicam à nossa realidade restrita, ao sistema em que nos encaixamos? Até onde poderemos ser incrivelmente ignorantes por nos recusarmos a deixar os nossos preconceitos?
Não, esta obra de ficção matemática não nos responderá a estas perguntas, mas fará estas e outras mais àqueles que se atreverem  a visitar este mundo. Apesar de ter ouvido falar pouco deste livro, recomendo-o, sem reservas.

Classificação : 8 /10 - Muito Bom